O Brasil possui seis regiões naturais distintas, chamadas de biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampas e Pantanal. Todos os biomas que ocorrem no Brasil estendem suas fronteiras para além do limite do país, com exceção da Caatinga, que é a região que se encontra exclusivamente no território brasileiro.
O que é Caatinga?
Caatinga é a vegetação que predomina no Nordeste do Brasil e está inserida no contexto do clima semiárido. Você sabia que os índios, primeiros habitantes da região, a chamavam assim porque na estação seca, a maioria das plantas perde as folhas, prevalecendo na paisagem a aparência clara e esbranquiçada dos troncos das árvores?! . Daí o nome Caatinga (caa: mata e tinga: branca) que significa “mata ou floresta branca” no tupi. Porém, no período chuvoso a paisagem muda de esbranquiçada para variados tons de verdes.
CAATINGA É A UNICA FLORESTA 100% BRASILEIRA A área da Caatinga é de 844.453 Km² (IBGE, 2004) e a totalidade de seus limites encontra-se dentro do território brasileiro, ou seja, seu patrimônio biológico não é encontrado em nenhuma outra região do mundo. Abrange os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Maranhão e também a faixa norte de Minas Gerais. Faz limite com outros três biomas do país, a Amazônia, a Mata Atlântica e o Cerrado. De todos os estados em que ocorre a Caatinga, o Ceará é o que possui maior parte do seu território formado por esse bioma.
O clima e as chuvas O clima que predomina na Caatinga é o semiárido. Ele constitui uma característica importante que determina a natureza da Caatinga. O clima semiárido possui uma precipitação (quantidade de chuva) em torno de 800 mm por ano. Em períodos mais chuvosos pode chegar a 1.000 mm por ano e nos mais secos, apenas 200 mm por ano. A temperatura média anual varia de 25°C a 30°C e é mais ou menos constante em toda região. O sistema de chuvas divide o ano em dois períodos: o chuvoso e o seco. O período chuvoso é curto, de 3 a 5 meses de duração, geralmente de janeiro a maio. As chuvas são torrenciais e irregulares concentradas nesses primeiros meses do ano. O período seco ou estiagem ocorre, na maior parte do ano, de 7 a 9 meses, entre junho e dezembro. O semiárido é uma das regiões secas mais quentes do planeta. No período seco, a temperatura do solo pode chegar a 60°C e o sol forte acelera a evaporação das águas dos lagos e rios. O relevo e os solos Cerca de metade dos terrenos da Caatinga são de origem cristalina (um tipo de rocha matriz dura e muito antiga que não favorece a acumulação de água) sendo a outra metade representada por terrenos sedimentares, que possuem boa capacidade de armazenamento de águas subterrâneas. O relevo na Caatinga possui especificidades e formas, que foram modeladas durante milhões de anos da história da Terra pelo clima da região (temperatura, chuvas, vento, umidade), que atuou como agente modelador e diferenciador da paisagem. O resultado são as várias formações de relevo encontradas na Caatinga como serras, chapadas, planaltos e depressão sertaneja. A origem das rochas e do relevo da Caatinga resulta em um conjunto de solos formando mosaicos, distribuídos de forma complexa e com características variadas mesmo em pequenas distâncias. Os tipos de solos variam de rasos a profundos, com alta a baixa fertilidade e texturas argilosas e arenosas. Por causa da variedade dos solos e do relevo, é possível encontrar na Caatinga uma diversidade de paisagens e vegetações. O tipo de solo mais comum é o raso e pedregoso, que apresenta plantas de baixo porte (arbustos) e cactáceas. É comum este solo sob a depressão sertaneja, a porção mais plana do relevo. As serras e as chapadas são as porções mais altas. Possuem clima ameno e maior umidade devido às chuvas, permitindo o desenvolvimento de matas maiores e mais fechadas.Em alguns lugares existem afloramentos de rochas chamados de “lajedos” que atuam ecologicamente como desertos e locais onde se desenvolvem plantas suculentas como cactáceas e bromélias. Os rios A maioria dos rios na Caatinga é intermitente, ou seja, correm apenas durante o período das chuvas, ficando secos durante a estação de estiagem. Os rios perenes, aqueles que permanecem com água corrente o ano todo, são menos frequentes. Dois rios perenes de grande porte e bastante conhecidos são o rio São Francisco e o Rio Parnaíba. Na formação dos rios, as nuvens de chuvas vindas do litoral são barradas pelas serras e as chapadas mais altas, onde a água da chuva se infiltra e escoa, originando nascentes de encosta e pés de serra úmidos. Por que a Caatinga é única? No mundo, existem outras regiões semiáridas, como por exemplo, no Chile, na Ásia e na África, que compartilham características semelhantes do clima semiárido e de regime irregular de chuvas. Porém, quando os cientistas compararam as espécies daqui com as dessas regiões, verificaram que as nossas espécies não apenas eram diferentes e exclusivas, como também apresentavam uma diversidade bem maior. Mas então, o que fez a Caatinga ser única? Foram justamente os eventos relacionados a variações no clima (entre muito quente e muito frio) que ocorreram aqui há milhares de anos que fizeram com que a vida se estabelecesse nessa região de uma forma diferente e peculiar. As variedades das rochas fizeram com que diferentes solos fossem formados na Caatinga (com diferentes minerais, profundidades, texturas e com maior ou menor capacidade de reter água). O clima da região, com longos períodos secos, permitiu que apenas as plantas com adaptações para suportar a deficiência de água prosperassem. O contato com diferentes formações vizinhas como o cerrado e as florestas amazônica e atlântica, contribuiu para a formação desse cenário de condições tão específicas, onde puderam surgir espécies endêmicas
As plantas
Na Caatinga existem aproximadamente 5.311 espécies de plantas, destas no mínimo 1.547 são endêmicas (IBGE). A Caatinga não é homogênea, possui uma variedade de vegetações classificadas como fitofisionomias (fito = planta e fisionomia = aparência, significa o aspecto visual da vegetação), por isso é comumente denominada por caatingas, no plural.
Caatinga arbórea
É a verdadeira caatinga dos índios tupi: florestas altas com árvores que chegam a 20 metros de altura, que na estação chuvosa formam uma copa contínua e uma mata sombreada em seu interior.
Caatinga arbustiva
Ocorre em áreas mais baixas e planas, com árvores de menor porte de até 8 m de altura, associadas a cactáceas como o xique-xique, o facheiro e bromélias como a macambira e o croata.
Mata seca
Floresta que ocorre nas encostas e topos das serras e chapadas. As árvores dessa mata perdem as folhas em menor proporção durante a seca.
Carrasco
Vegetação que só ocorre a oeste da Chapada da Ibiapaba e ao sul da Chapada do Araripe, com arbustos de caules finos, tortuosos e emaranhados, difíceis de penetrar.
Adaptações ao período seco
Devido às irregularidades no regime hídrico da caatinga, com chuvas concentradas em apenas um período do ano, a vegetação deste bioma desenvolveu uma série de características e adaptações para permitir a sua sobrevivência. Essas características são chamadas de xeromorfíssimo (do grego xeros: seco, e morphos: forma) e é a condição mais marcante da vegetação da Caatinga.
Espécies cactáceas como mandacaru, facheiro, xique-xique, coroa-de-frade, entre outras, apresentam folhas transformadas em espinhos, evitando, dessa forma, a perda excessiva de água através da transpiração. Tal modificação também constitui uma defesa contra animais que poderiam utilizar estas plantas como alimento. Plantas como a embira anhá, possuem o caule verde, com células clorofiladas que permitem a planta continuar realizando fotossíntese e produzindo nutrientes mesmo depois de perder as folhas. A mesma estratégia é utilizada pelos cactos que fazem fotossíntese pelo caule, já que as folhas foram transformadas em espinhos.
Outra forma de adaptação é as folhas serem pequenas e cobertas por uma espécie de cera na parte mais externa, a cutícula, formando uma camada impermeável que dificulta ou impede a perda de água.
Muitas plantas adotam a estratégia de escape ou fuga da escassez de água, acelerando e diminuindo o seu ciclo de vida ou adiando o período de germinação para períodos com maior umidade no solo. Elas germinam, florescem e morrem no período chuvoso para aproveitar a água disponível no ambiente. Um exemplo são as plantas herbáceas, como o capim e plantas rasteiras.
O período de floração também é diferenciado e como as chuvas na Caatinga não iniciam na mesma época, a floração e produção de frutos variam de local para local e de planta para planta. As flores são geralmente pequenas e têm o período reduzido de floração e produção de sementes, antes que o teor de umidade caia excessivamente e lhe cause danos.
As espécies da caatinga desenvolveram um sistema complexo de raízes formando um emaranhado tão grande ou maior que os galhos da própria copa da planta. O desenvolvimento de raízes tuberosas, uma espécie de ‘batata’ que armazena água e nutrientes, possibilita que a planta sobreviva ao período seco. Algumas espécies possuem o caule suculento que também é capaz de armazenar água e nutrientes.
Com o armazenamento de água e nutrientes, as plantas deixam as folhas caírem no final do período chuvoso, ficando, muitas vezes, totalmente desfolhadas no período seco. Desta forma, não ocorre perda de água para o ambiente através das folhas. Sem as folhas verdes, a taxa fotossintética é drasticamente reduzida e a planta entra em estágio de economia de energia e uso das suas reservas.
Os animais Assim como as plantas, os animais sofreram adaptações para superar a estiagem. Adaptaram-se para consumir alimentos disponíveis na estação, realizam migrações sazonais para locais mais úmidos como as serras, aceleram o ciclo reprodutivo durante as chuvas ou entram em estado de dormência durante a seca. Peixes Um dos mais surpreendentes grupos de animais da Caatinga são os peixes, com 240 espécies, das quais a estimativa é que 136 sejam endêmicas. Das espécies identificadas, 25 conseguem adiar a postura dos ovos para o período chuvoso. Os ovos são resistentes e o desenvolvimento do embrião é lento, podendo durar quase um ano. Ao eclodirem, os peixes – que atingem cerca de 5 a 15 cm de comprimento – vivem em lagoas e poças de águas temporárias. Anfíbios Ao todo são 49 espécies conhecidas, dessas, cerca de 15% são endêmicas. Parece surpreendente que os anfíbios existam na Caatinga, já que necessitam manter a pele sempre úmida e dependem da água para reprodução e desenvolvimento. Eles desenvolveram uma estratégia como longos períodos de estivação (um tipo de “dormência”) no período seco, reprodução apenas no período chuvoso, proteção dos ovos e girinos em ninhos de espuma para não dessecarem e acelerada metamorfose dos girinos para vencer a evaporação da água. Répteis Na Caatinga são cerca de 116 espécies, sendo 10 de anfisbenídeos (lagarto sem pata) e 47 lagartos, 52 serpentes, 4 quelônios e 3 crocodilianos. Como exemplo temos o Jacaré-coroa (Paleoschus palpebrosus), Iguana (Iguana iguana) e a Caninana (Spilotes pullatus). Aves São 510 espécies de aves registradas na Caatinga, sendo cerca de 1/3 dessas endêmicas. Como por exemplo, o Corrupião (Icterus jamaraii), Galo-de-campina (Paroaria dominicana), Asa-branca (Columba picazuro), Periquito-do-sertão (Eupsittula cactorum), Canário-da-terra (Sicalis flaveola) e o Cancão (Cyanocorax cyanopogon). Mamíferos A fauna de mamíferos do bioma Caatinga possui 148 espécies registradas, sendo 10 endêmicas. A perda de habitat e a caça são os principais fatores de perigo para essas espécies e dez delas estão incluídas da lista oficial de espécies ameaçadas de extinção. Como exemplo temos a Onça-parda (Puma concolor), Jaguatirica (Leopardus pardalis), Gato-mourisco (Puma yagouaroundi), Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), Soim (Callithrix jacchus), Raposa (Cerdocyon thous), Mocó (Kerodon rupestris), Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), Catitu (Pecari tajacu) e Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira).
PRESERVAÇÃO DA CAATINGA
Os ecossistemas do bioma Caatinga encontram-se bastante alterados, com a substituição de espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens. O desmatamento e as queimadas são ainda práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de destruir a cobertura vegetal, prejudicam a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, e o equilíbrio do clima e do solo.
De acordo com o IBGE, 27 milhões de pessoas vivem atualmente no polígono das secas. A extração de madeira, a monocultura da cana-de-açúcar e a pecuária nas grandes propriedades (latifúndios) deram origem à exploração econômica. Na região da Caatinga, ainda é praticada a agricultura de sequeiro, que é uma técnica para cultivo em terras extremamente secas.
Os órgãos ambientais do setor federal estimam que mais de 46% da área da Caatinga já foi desmatada. Vale ressaltar que muitas espécies são endêmicas desse bioma, ou seja, ocorrem apenas lá. Por isso devemos nos conscientizar cada vez mais sobre esse fato que atinge todos nós, e ajudar na preservação de um bioma tão rico, que só tem aqui!
Por hoje é só galera, se tu gostou, comenta e compartilha visse? Um xero grande e até a próxima
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