Um levantamento recente revela que apenas 15% das 23,6 mil estações de monitoramento de rios no Brasil enviam dados em tempo real, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Essa limitação representa um desafio significativo na previsão e gestão de desastres naturais, como inundações, que são comuns no país.
Essas estações, que se dividem entre pluviométricas (medem a precipitação) e fluviométricas (medem o nível e a vazão dos rios), são cruciais para a coleta de dados precisos e em tempo hábil. Segundo especialistas, a infraestrutura atual é inadequada para a necessidade de monitoramento contínuo, e a falta de cobertura de redes de celular em algumas áreas dificulta ainda mais a transmissão de informações.
Para que a Defesa Civil emita alertas precisos e tempestivos à população, é essencial que especialistas tenham acesso a dados atualizados das estações de monitoramento. No entanto, 85% dessas estações dependem de observadores para a coleta manual de dados, um método considerado ineficaz em situações de emergência. Carlos Tucci, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS) e diretor de hidrologia da Rhama Analysis, destaca a importância das estações telemétricas: "Quase todos os postos, você vai lá a cada dois, três meses para pegar os dados. Só um grupo de postos pequenos que são telemétricos, que mandam [os dados] para uma estação em tempo real. Isso é essencial em uma hora dessas [de tragédia]".
Leandro Casagrande, engenheiro do Cemaden, reforça que a rede de dados online é fundamental para a previsão de alertas hidrológicos, como enchentes e transbordamentos. Em 2023, o Cemaden emitiu 3.425 alertas, dos quais mais da metade foram hidrológicos. Em 2022, inundações afetaram mais de 1,5 milhão de pessoas, enquanto 7 milhões sofreram com a seca, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA).
A cobertura atual de monitoramento é especialmente deficiente em pequenas bacias hidrográficas, onde ocorrem 70% dos desastres hidrológicos. A instalação de pontos de monitoramento historicamente focou no desenvolvimento do setor elétrico, concentrando-se nas grandes bacias hidrográficas, deixando as pequenas bacias desassistidas.
Para efeito de comparação, a Inglaterra, com uma área ligeiramente menor que o estado do Amapá, possui cerca de sete mil pontos de monitoramento, aproximadamente 30% do total brasileiro. Essa disparidade evidencia a necessidade urgente de ampliar a rede de estações de monitoramento no Brasil.
A Agência Nacional de Águas (ANA), responsável por coordenar os pontos de monitoramento, enfrenta restrições orçamentárias que dificultam a expansão e a modernização da rede. "A gente gostaria de ter mais estações", afirma o presidente da ANA, refletindo a frustração diante das limitações atuais.
A melhoria e a ampliação da rede de monitoramento são imperativas para garantir a segurança da população e a eficiência na gestão de desastres naturais no Brasil. Investir em tecnologias de monitoramento em tempo real e ampliar a cobertura de pontos de coleta de dados são passos essenciais para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela vulnerabilidade geográfica do país.
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